Todos os anos, no dia 20 de novembro, o país desperta para o mesmo debate: “Mas por que Dia da Consciência Negra?” e, ironicamente, a pergunta vem sempre de quem nunca se preocupou em ter consciência alguma, muito menos consciência histórica.
Há quem diga que “não precisamos de datas”, como se a simples recusa pudesse apagar séculos de escravidão, violência, apagamento e resistência. Há quem alegue que “todos somos iguais”, esquecendo que igualdade real não nasce de frases prontas, mas de ações concretas e, antes de tudo, de reconhecer as desigualdades que insistimos em empurrar para debaixo do tapete.
O Dia da Consciência Negra não é um feriado para folga ou polêmica: é um espelho. E, como todo espelho sincero, incomoda.
Ele nos obriga a encarar que este país foi construído por mãos negras, mãos que ergueram casas, igrejas, plantações, cidades, e que, mesmo livres por lei, ainda hoje enfrentam portas fechadas, olhares atravessados e oportunidades negadas.
Nos lembra que a cultura que tanto celebramos , a música, a culinária, o jeito brasileiro de existir, carrega sotaques, ritmos e cores que vieram da África como lembrança, resistência e reinvenção.
E é justamente por isso que tanta gente se incomoda: porque o Dia da Consciência Negra cutuca a ferida de uma história que o Brasil tenta, em vão, esquecer.
É mais fácil atacar a data do que admitir que o racismo não é opinião, é estrutura.
É mais cômodo ironizar o feriado do que aceitar que, sim, ainda há muito a reparar.
Mas a data permanece, teimosa, firme, viva.
Permanece porque lembrar Zumbi não é viver do passado; é impedir que ele se repita.
Permanece porque celebrar a vida, a cultura, a força e a existência do povo negro é uma forma de justiça.
Permanece porque consciência, quando dói, é sinal de que estamos começando a aprender.
Que o 20 de novembro não seja apenas lembrado, mas compreendido.
E que, para aqueles que tanto lutam para desmerecê-lo, reste ao menos uma lição simples: quem teme a consciência revela, no fundo, que prefere a conveniência da ignorância.
Simoni Bergamaschi
Advogada, Cronista, filha, mãe, irmã e cunhada.
Texto de responsabilidade do(a) autor(a).
Fonte: Simoni Bergamaschi
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