Construído entre 1988 e 2001, o Lago do Manso é um reservatório artificial que passou a atrair moradores e turistas em Chapada dos Guimarães, a 65 quilômetros de Cuiabá. Projetada inicialmente para o controle de enchentes e o abastecimento de água, a barragem voltou a ganhar destaque nesta semana após um menino de 6 anos conseguir salvar a mãe e o irmão bebê depois que a lancha em que a família estava naufragou no local.
O menino, Bernardo Mazzaron Yerdiska, era o único ocupante da embarcação que usava colete salva-vidas. Após o acidente, ele conseguiu nadar até a margem e pedir ajuda a moradores da região, que iniciaram as buscas e localizaram a mãe, Camila Mazzaron, e o irmão, Benício Mazzaron Yerdiska, de 1 ano, à deriva no lago.
Até a última atualização desta reportagem, continuam desaparecidos o pai das crianças, o autônomo Lucas Yerdliska, de 33 anos, e o piloto da embarcação, Vando Celso Almeida Orro.
Segundo o Sistema Eletrobras Furnas, responsável pela administração da hidrelétrica, o Lago do Manso tem profundidade média de 19 metros, extensão aproximada de 50 quilômetros ao longo do Rio Manso e largura média de 7,7 quilômetros. Na cota atual, a área superficial do reservatório é de cerca de 325 quilômetros quadrados.
O professor do departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cleberson Ribeiro de Jesus, explicou que a construção da barragem foi motivada pela grande enchente registrada em 1974, que atingiu Cuiabá, Santo Antônio de Leverger e Barão de Melgaço.
“O projeto surgiu a partir de uma demanda social, mas também com a ideia de criar um grande reservatório de água doce para o abastecimento futuro da capital”, afirmou.
De acordo com o professor, o lago apresenta profundidade máxima de até 80 metros, respeitando a topografia local, marcada por cânions e variações no relevo. Apesar disso, ele alerta que a navegação no local pode ser arriscada, já que a grande lâmina d’água favorece a formação de ondas.
“Há rajadas de vento que podem gerar ondas de 40 a 50 centímetros, o que, dependendo do tipo de embarcação, pode provocar o tombamento”, explicou.
Após o resgate, Camila Mazzaron relatou que o tempo mudou de forma repentina, com ventos intensos e ondas fortes.
“Eu lembro que a gente estava no meio e começaram ondas e ventos muito fortes. O piloto tentava manter o controle, mas a lancha não se sustentava. Eu virei de costas porque vinha muita água, e eu estava com o bebê no colo”, contou.
O doutor em recursos hídricos da UFMT, Ibrahim Soutirim, reforçou que, mesmo em condições consideradas moderadas, os ventos na região podem provocar ondas devido à grande extensão da superfície do reservatório.
“A lâmina d’água é muito extensa, o que favorece a formação e a amplificação das ondas. A barragem também foi pensada como um aproveitamento múltiplo, mas a eficiência energética é baixa em relação à área inundada”, explicou.
Histórico de acidentes
Ao longo dos últimos anos, o Lago do Manso tem sido cenário de diversos acidentes fatais, muitos associados ao consumo de álcool e à falta de equipamentos de segurança. Veja alguns casos:
. 19 de julho de 2021 – Uma mulher de 29 anos foi encontrada morta após a embarcação em que estava virar na noite anterior. O corpo foi localizado a cerca de três metros de profundidade e 40 metros da margem.
. 21 de agosto de 2020 – Alinor Santos Cunha, de 65 anos, morreu depois que a canoa onde estava virou enquanto ele alimentava peixes na beira do lago.
. 1º de dezembro de 2024 – Roniielson Domingos da Silva, de 27 anos, morreu afogado após mergulhar durante uma confraternização com amigos e familiares.
. 20 de janeiro de 2024 – Edelson José Nunes, de 51 anos, morreu após se afogar enquanto mergulhava próximo à margem do lago. Ele não retornou à superfície.
. 11 de fevereiro de 2024 – Jackson Batista de Souza, de 23 anos, morreu após cair de um jet ski na região do Condomínio Portal das Águas.
. 17 de março de 2024 – Ana Luiza dos Santos, de 19 anos, morreu após cair de uma moto aquática. Ela e o piloto estavam sem colete salva-vidas, e o veículo foi apreendido por falta de documentação.
Fonte: G1MT
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